Mostra de filmes e vídeos:
O índio
Imaginado
1992
Ao trazer para o meio virtual a retrospectiva da mostra de filmes e vídeos O Índio Imaginado, o Armazém Memória abre uma janela para que as gerações de hoje possam ter acesso a uma das iniciativas que marcaram os 500 anos do descobrimento das Américas e conhecer o importante trabalho realizado pelo Centro Ecumênico de Documentação e Informação (CEDI), que atuou entre 1964 e 1994, quando desmembrou-se em quatro outras instituições: Ação Educativa, Instituto Socioambiental (ISA), Núcleo de Estudos e Trabalho e Sociedade (NETS, hoje extinto) e Koinonia.
Esta mostra, realizada em 1992 no Centro Cultural São Paulo em co-patrocínio com a Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo durante a gestão da prefeita Luiza Erundina, fruto de pesquisa em mais de 800 títulos mapeados à época, é um de tantos legados deixados pelos membros do CEDI, que formaram ao longo de 30 anos um dos mais importantes acervos documentais, que retrata a vida e os conflitos de vários segmentos sociais à sua época. O acervo referente aos povos indígenas encontra-se no ISA, que segue com o trabalho.
Juntamos à mostra, como extras: o documentário O Relógio & a Bomba e os outros 500, que aponta distintas visões sobre a comemoração da invasão (como os caciques Angelo Kretã e Marçal de Souza, ambos assassinados, se referiam ao descobrimento do Brasil) e retrata como os povos indígenas, camponeses e quilombolas foram tratados na efeméride do descobrimento no ano 2000; a série Maracá – Emergência Indígena e o spot Nossa Luta é Pela Vida!, produções recentes da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) em rede com organizações indígenas de todas as regiões do Brasil, onde denunciam o genocídio em curso hoje, quase três décadas após a exibição da mostra.
No Brasil a história se repete como um genocídio continuado. Queremos proporcionar um diálogo pelo cinema entre várias épocas e quereres para promover a solidariedade e o respeito para com os povos originários e superarmos os sofridos dias atuais. Sangue indígena: nenhuma gota a mais!
Demarcar e respeitar é reparar.
Abril Indígena, 2021.
Marcelo Zelic
Coordenador do Armazém Memória e membro da Comissão Justiça e Paz de São Paulo.
Homenageamos com esta mostra virtual Carlos Alberto Ricardo do ISA.
Agradecemos:
a Jorge Bodanzky pela disponibilização do filme Terceiro Milênio.
a Vincent Carelli pela disponibilização do filme O Espírito da TV.
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Catálogo da Mostra
Clique na imagem para consultar o catálogo. Para uso em celular faça download do pdf.
A mostra “O Índio Imaginado” que o CEDI apresenta ao público paulistano integra o conjunto dos eventos relativos aos 500 anos do descobrimento da América patrocinados pela Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo. Para sua realização, foi desenvolvida uma pesquisa, em acervos cinematográficos nacionais e internacionais, para o levantamento da produção relativa à temática indígena brasileira desde o início do século. Este trabalho, coordenado pelo pesquisador Mário J. Careghino (convênio CEDI/MLAL). produziu um bando de dados com 888 títulos entre filmes, vídeos e reportagens televisivas sobre o tema. A partir desse conjunto foi feita uma pré-seleção de 300 títulos para exame, e daí se chegou à programação da mostra. A seleção final reflete editoriais e circunstâncias de produção.
Em primeiro lugar privilegiou-se o ineditismo de alguns títulos, como Araweté de Murilo Santos e Last of Bororos de Alhoa Baker, e obras poucas conhecidas do público, como os longas de ficção O Caçador de Diamantes de Victorio Capellaro, e Descobrimento do Brasil de Humberto Mauro. Quanto aos documentários, os antigos filmes do Major Luís Thomas Reis – Parimã: fronteiras do Brasil (1926) e Rituais e festas Bororo (1916) -, bem como os títulos que compõem o bloco Xavante, além de pouco conhecidos, foram realizados por cinegrafistas que acompanhavam expedições oficiais e dessa maneira populações indígenas em diferentes momentos históricos.
No conjunto os títulos foram agrupados em blocos temáticos (“Primeiros tempos da colonização”, “Tempos recentes”, “Cinegrafistas oficiais” e “Frentes de atração”), e em blocos dedicados a grupos étnicos específicos (Yanomami, Waiãpi, Bororo, Urubu, Xinguanos do Parque e Araweté). Os dois primeiros temas pretendem fornecer ao público uma dimensão histórica e um contraponto atual das imagens construídas a respeito dos povos indígenas. O bloco “Cinegrafistas oficiais” traz filmes biográficos dos pioneiros Luís Thomas Reis, Heinz Forthmann e Wladimir Kozak. Graças a seus trabalhos, as platéias dos centros urbanos puderam, ainda que de uma maneira muito pouco isenta, se aproximar desta realidade distante. “Frentes de Atração”, por sua vez, é um bloco dedicado a mostrar como o contato com grupos indígenas isolados é realizado, ou seja, como a sociedade nacional se aproxima dos índios efetivamente.
O segundo conjunto, formado por blocos étnicos, reflete, em certa medida, a tendência do cinema brasileiro em concentrar periodicamente sua atenção em determinados grupos indígenas. A maciça invasão das terras Yanomami por milhares de garimpeiros a partir de 1987, por exemplo, levou à sua região (Estados de Roraima e Amazonas) várias equipes de filmagem do Brasil e do exterior a fim de registrar a tragédia que se abateu sobre este grupo. Algumas delas produziram reportagens televisivas (Yanomami: a luta pela demarcação e Yanomami saúde, ambas da TV Cultura de São Paulo, e Yanomami vida ou morte, da TV Manchete), outras, trabalhos de cunho mais artístico (Povo da lua, povo do sangue), porém, igualmente voltados para situação de contato do grupo. O exemplo Yanomami possui correspondentes mais antigos.
Os Bororo, desde a fundação do Serviço de Proteção aos índios (órgão indigenista oficial fundado na primeira República, substituído pela FUNAI em 1967), receberam especial atenção, talvez porque o fundador do órgão, o Marechal Rondon, reconhecesse ancestrais entre estes índios. Nos anos 50, os Xavantes passam a atrair a atenção da sociedade como um todo ao insistirem na recusa do contato com os “brancos”. Desde o final dos 40, os irmãos Villas-Boas, à frente da expedição Roncador-Xingu, atingiam seu território no rio das Mortes e vários cinegrafistas acorrem para a região em busca de imagens destes “selvagens” do Brasil central. Assim, os filmes do bloco Xavante focalizam o duro processo de contato com este grupo. O filme Território Xavante, que mostra igualmente os primeiros contatos com este grupo, não pode ser incluído na mostra, uma vez que a cópia disponível na Cinemateca do MAM não se encontrava em condições de telecinagem.
A expedição Roncador-Xingu efetivaria ainda o contato com os vários grupos que atualmente ocupam o Parque Indígena do Xingu. Assim, desde esta época os assim chamados Xinguanos – mais de dez grupos que falam línguas diferentes, mas que fazem parte de um mesmo complexo cultural, são até os dias de hoje os grupos mais filmados da história do cinema documental brasileiro. A seleção dos filmes que compõem o bloco a eles dedicado, privilegiou as produções mais recentes (Uaka, Jornada Kamayura e Xingu/Terra), uma vez que, tomadas dos primeiros contatos com estes grupos aparecem em alguns títulos do bloco Xavante.
O bloco Waiãpi, por sua vez, apresenta uma descontinuidade: registrados pela câmera de Thomas Reis em 1926 (Parimã: nas fronteiras do Brasil), novas produções sobre este grupo apareceram somente com a série The Waiãpi (1987), de Victor Fucks e o vídeo O Espírito da TV de Vincent Carelli (1991). O bloco Urubu guarda, do mesmo modo, uma particularidade: é o único bloco étnico da mostra que conta com um filme de ficção, Uirá, um índio em busca de Deus.
Esperamos com esta programação alcançar um público amplo, do mesmo modo que desejamos, a todos que venham ao Centro Cultural São Paulo assistir à mostra “O Índio Imaginado”, proporcionar uma oportunidade para tomar contato com o universo indígena brasileiro, ou pelo menos com o modo como foi construído pelo cinema nacional, pois estes filmes, como já sugeriu J.C.Rodrigues (no ensaio “O Índio brasileiro e o cinema”, 1980) “exprimem de modo bastante amplo as diversas visões do índio pela sociedade branca. A saber, principalmente, o idealismo, o preconceito e o humanismo. Na maioria dessas obras, aprendemos bastante do modo como o branco vê (ou viu) o índio – mas muito pouco de como este realmente é, ou vê o mundo”.
Geraldo Andrello/CEDI
Filmes e Vídeos da Mostra
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“O olhar civilizado sobre o universo indígena
através de 34 títulos produzidos entre 1926 e 1992:
idealismo, preconceito e humanismo”.
Os Primeiros Tempos da Colonização
- O Caçador de Diamantes (Cinemateca Brasileira) **
- Descobrimento do Brasil (Cinemateca Brasileira)
- Como era gostoso o meu francês (Manchete VÍdeo)
Tempos Recentes
- Terceiro Milênio (IBAC)
- Documentário Nº 576 (Arquivo Nacional) **
- Documentário Nº 569 (Arquivo Nacional)
- Dacuí, a viagem de volta (Cinemateca Brasileira) **
- Cinejornal Informativo Nº 6 (Arquivo Nacional)
- Cinejormal Informativo s/n VII (Arquivo Nacional) **
Cinegrafistas Oficiais
- O Cinegrafista de Rondon (IBAC)
- O Mundo perdido de Kozak (IBAC)
- Heinz Forthmann (IBAC) **
Frentes de Atração
- Txicão: Contact with a hostile tribe (MAL) **
- A tribo que fugiu do homem (MAL)
- Guerre de pacification en Amazonie (CEDI)
- In search os a unknown amazon tribe (Cinemateca Brasileira) **
Os Yanomami
- Povo da lua, povo do sangue (CDI)
- Yanomami: A luta pela demarcação (TV Cultura de SP) **
- Yanomámi de la rivière du miel (Museu do Índio) **
Os Waiãpi
- Parimã: fronteiras do Brasil (Museu do Índio)
- O Espírito da TV (CTI)
Os Xavante
- Cinejomal Brasileiro Nº 33 VOL. 4 (Cinemateca Brasileira) **
- Sertão, entre os índios do Brasil Central (Cinemateca Brasileira) **
- Brasil Central (Cinemateca Brasileira) **
Os Bororo
- Rituais e Festas Bororo (Museu do Índio)
- Funeral Bororo (Memorial da América Latina)
- Last of the Bororos (Human Studies Film Archive) **
Os Urubu Ka’apor
- Os Índios Urubu: um dia na vida de uma tribo da floresta tropical (Museu do Índio)
- Uirá,um índio em busca de Deus (IBAC)
Os Xinguanos do Parque
- Funeral Mehrktire/Nascimento Kamaiura (MAL) **
- Xingu/Terra (MAL)
- Jornada Kamayura (IBAC)
- Uaka (IBAC)
Os Araweté
Araweté (CEDI)
** Títulos não localizados. Ajude a completar a mostra.
Se você tiver um dos filmes abaixo entre em contato com: marcelozelic@gmail.com
- Brasil Central (Cinemateca Brasileira)
- Cinejornal Brasileiro Nº 33 Vol.4 (Cinemateca Brasileira)
- Cinejornal Informativo S/N VII (Arquivo Nacional)
- Diacuí, a viagem de volta (Cinemateca Brasileira)
- Documentário Nº 576 (Arquivo Nacional)
- Funeral Metuktire / Nascimento Kamaiura (MAL)
- Heinz Forthmann (IBAC) – somente em VHS. Cópia encontra-se na FUNARTE.
- In Search of an unknown amazon tribe (Cinemateca Brasileira)
- O Caçador de diamantes (Cinemateca Brasileira) – somente em 35mm. Para ver o roteiro do filme clique aqui.
- Sertão, entre os índios do Brasil central (Cinemateca Brasileira)
- The last of the Bororos (Human Studies Film Archive) – Enquanto não temos retorno da instituição, sugerimos o filme Rio das Mortes de 1934 que não substitui o escolhido pelos curadores da mostra, proporciona uma visão aproximada do porque foi escolhido. (mesmo autor)
- Txicão: Contact with a hostile tribe (MAL) – MIS – Cópia somente em 16mm. Nº de Registro: FM00284-16A(1)
- Yanomami de la rivière du miel (Museu do Índio) – DVD só para consulta local. Código BRMI AD DA / AD 047
- Yanomami: A luta pela demarcação (TV Cultura de SP)
Os títulos ligados à Cinemateca Brasileira não puderam ser pesquisados devido ao fechamento da instituição em virtude da pandemia de COVID 19.
TEMOS EQUIPAMENTOS DE DIGITALIZAÇÃO DE FITAS DE VHS CASO NECESSÁRIO.
ESPECIAIS
Um resgate coletivo da história. Catálogo.
PELA CRIAÇÃO DA COMISSÃO NACIONAL INDÍGENA DA VERDADE
com rede solidária de pesquisa e trabalho colaborativo
campanha de 2012 do Armazém Memória e Toda Ópera por verdade, memória, justiça e reparação para os Guarani-Kaiowá e demais povos indígenas.